Quando acreditamos que temos o poder e o dever de modificar alguém muito amado, podemos estar iniciando
uma viajem enlouquecida e enlouquecedora, muitas vezes sem volta, porque esta é
uma Missão Impossível! Mesmo que seja para “salvá-los dos desvios”: álcool,
drogas, delinquência .. Mesmo que seja por um amor maior: de pais, de filhos,
companheiros, amigos... ainda assim, é uma Missão Impossível!
Acreditando-nos responsáveis pela
vida e felicidade do Outro, acreditando-nos culpados pelo fracasso de nossa “Missão”,
buscamos fugir da dor, sufocando medo, vergonha, frustração, raiva, humilhação,
mágoa... A princípio, buscamos forças em nosso orgulho, acreditamos “ter que”
sermos suficientes para lidar com quaisquer desafios. Nosso orgulho se revela na arrogância desorientada
com que, mais e mais destemperados e desesperados, seguimos distribuindo
culpas, ditando regras, orientações, cobranças, agressões... Ainda orgulhosos (e
humilhados), querendo esconder “nosso problema”, vamos enredando-nos numa
verdadeira rede de segredos, mentiras, manipulações. “O problema é meu e tenho
que resolvê-lo do meu jeito!”
Na medida
em que as mais desesperadas e diversificadas tentativas de controle se mostram
infrutíferas, aumentam as frustrações, a raiva, as mágoas... Sentimo-nos
melindrados pela Vida que não parece reconhecer nossos esforços, nosso valor...
Caminhamos para o desespero e desesperança, sufocando nossa dor, nossa
confusão, sob um discurso de “tudo bem”, “já não estou nem aí”. Nesse processo,
discutimos com os familiares, fugimos de contactos com o mundo, num terrível
processo de desencontro, caminhando para uma dolorosa solidão. Sou “eu/comigo”
e tudo contra!
Mas é sob a pressão dessa mesma
dor que nossas defesas se estilhaçam e nosso grito sufocado e humilhado acaba
por se deixar ouvir e, só então, nos permitimos ser acolhidos, aceitos,
ouvidos, consolados...
Somos seres sociais. Humanizamo-nos no contacto com outros
seres humanos. Nós nos descobrimos, consolamos e encorajamos no compartilhar
com aqueles que enfrentam desafios semelhantes aos nossos.
Em minha história, companheiros de Grupos Anônimos acolheram minha dor,
abraçando minha solidão tão sofrida. Compartilhando, entendi que não posso
modificar ninguém, por mais amado que seja; que não posso resgatar ninguém de
seu próprio caminho, que isso é Respeito pela alteridade do outro e o Respeito
é a primeira e principal faceta do Amor. Entendi que sou impotente para
modificar o Outro, mas tenho poder para Me modificar; que não tenho a
responsabilidade pelos caminhos do Outro, mas sou responsável pelos meus
caminhos, pela minha vida!
Com eles, conheci a aceitação e o respeito quando me
ouviram; quando ouviram minhas verdades, meus segredos, minhas mentiras, meus
acertos e desacertos, meus medos, minha insegurança ... E sempre aplaudiam
minha coragem! Senti-me valorizada e fui descobrindo meu próprio valor.
Nesse doce
compartilhar, descobri um Poder Superior sempre presente e disponível para me
consolar e fortalecer, para me fazer entender o amor de outra forma. Hoje, estou buscando substituir invasão,
cobrança, agressão, manipulação... por respeito, aceitação, verdade, assertividade.
Também estou trocando orgulho, inveja, melindre, humilhação... por humildade,
compaixão, generosidade, gentileza. Estou reaprendendo a me relacionar, a estar
junto com alegria e a buscar serenidade e paz, mesmo nos momentos de grande dor.
Hoje, entendo que, juntos, aprendemos/ensinamos.
Hoje, sei que não estou só, que é muito bom e enriquecedor
saber que pertenço a um Grupo de Mútua Ajuda, que pertenço a muitos outros
grupos humanos e que, todos juntos, pertencemos a um Grupo Maior, a um Amor
Maior.
Aprendi
que, “Sozinha, nunca mais!”
(esse
é um lema Anônimo)