É o que nos acontece quando tentamos controlar o impossível
– o Outro. Com a “necessidade”
angustiada de proteger nossa vida de perdas e garantir ganhos (materiais,
afetivos, psicológicos), lançamo-nos com toda energia e determinação na
tentativa de controle das coisas e de pessoas – pessoas tão queridas que se
tornaram as “coisas” mais importantes de nossas vidas!
Quanto mais
acredito que posso e devo garantir o
“melhor” para eles, mais me dedico a tentar controlá-los. Essa “luta sagrada”,
e perdida, essa “missão impossível”, certamente acaba por levar ao desgaste de
energia e da relação, ao desespero, à desesperança, à depressão...
Descontrolados, perdemos a capacidade de pensar diferente, de escolher outras
possibilidades, outros caminhos, de enxergar outras pessoas e relações.
Com a mente descontrolada, ficamos ao sabor de sentimentos
agoniados e recorrentes que nos arrastam, nos martirizam e nos levam a atitudes
também descontroladas.
Isto é o descontrole de mim, do meu mundo interior, de minha
própria vida!
Na verdade,
esse descontrole é conseqüência de um pensar hipnotizado pela crença, pela
“certeza”, que posso, e devo, controlar o incontrolável – o Outro – (qualquer
outro) ligado a mim por laços afetivos ou mesmo de poder.
Acreditamos que quaisquer meios são válidos e necessários
para seduzir, prender, convencer, salvar, orientar, controlar e modificar -
todos aqueles que amamos ou que nos foram confiados pelos papéis familiares.
Para isso tentamos fazê-los pensar como nós, tentamos
adivinhar e censurar seus sentimentos e direcionar seus passos... Facilitamos
compulsivamente seus caminhos, mesmo nos vitimando, mentimos, acreditamos em
mentiras, manipulamos, nos deixamos manipular, brigamos, cobramos, agredimos, magoamos,
nos magoamos, nos ressentimos, adoecemos, enlouquecemos...
Já não vivemos como queríamos, não conseguimos sorrir com
alegria... Somos reféns de um medo contínuo por pressentirmos, em algum nível,
que falharemos nessa luta inglória... Isto é o descontrole da própria vida!
Descontrole que tanta dor nos causa e cada vez mais nos
afasta daqueles que amamos e tentamos controlar!
Precisamos,
todos, ser livres. Livres para
sermos quem somos, do modo que somos. Livres para pensar, sentir, agir...
Livres para errar, aprender, acertar...
- preciso me libertar
da obsessão/compulsão de cumprir essa missão absurda de controle, que me foi
passada “e eu acreditei”!
- preciso acreditar
que não tenho o poder de modificar
ninguém, sou impotente para isso (1ºPasso), em quaisquer situações, mesmo
em questões menores, mesmo por amor!
- preciso entender
que sempre que tento controlar o Outro, me frustro, perco o foco de mim mesmo e
acabo por me descontrolar, sofrer, ficar só...
Descontrole
é o que nos acontece quando tentamos não perder o controle que, realmente,
nunca tivemos – do Outro. É quando nos desviamos e abrimos mão do que nos é
realmente possível e de nossa responsabilidade: Cuidar da própria vida!