Quando abri mão dos “calços” que me sustentavam, premida
pela necessidade de me livrar da dor e do horror ao sentir que eles me
acorrentavam e afundavam cada vez mais, tomei consciência que todas as
dificuldades, os meus desequilíbrios, interiores e anteriores, continuavam
comigo! Tirei minhas escoras, mas como então me equilibrar? Abstinência pura e
simples, sem a busca dessas resoluções internas, certamente me levaria a buscar
novas escoras, novos disfarces, novas dependências, porque ainda era a mesma pessoa
confusa e fragilizada que não aprendera a caminhar.
Precisava
sentir uma força diferente, amorosa e respeitosa, que me acompanhasse até que
eu conseguisse tomar pé e me erguesse para uma nova vida. Entendi que “Só eu
posso fazer a minha caminhada, mas não posso sozinha!” Entendi que precisava da
força que me era oferecida por um Poder Superior, presente em mim e no respeito
amoroso de meus companheiros. Agarrei-me a essa força generosa e consegui
desfrutar daquela calmaria depois de tantas tempestades. Mas, finalmente,
entendi que, já refeita, não devia ficar ali acomodada (e encalhada!) ainda
que, já agora, em águas mansas. Precisava continuar...
Todas as
crenças equivocadas que me coagiam e me mantinham acorrentada na agonia de cumpri-las,
meus sentimentos tão dolorosos, desconhecidos ou amordaçados, as atitudes de
agressão e/ou submissão, a baixa auto-imagem... Tudo continuava comigo e doía
ainda mais porque estava em abstinência de meus aditivos/anestésicos! Precisava
cuidar de mim e a saída era buscar também nutrição e força em Minha Própria
Fonte! Precisava continuar...
Minha Luz
Interior, tão escondida e bloqueada, ainda assim, me impelia a seguir em busca
da liberdade e da alegria de uma Luz Maior.
A abstinência nos livra dos monstros que nos acorrentam aos
porões escuros de nós mesmos, mas só nosso esforço e nossa boa vontade poderão
abrir os cadeados dessas prisões interiores. Como “Portadores da Luz”, somos
impelidos a seguir, a buscar sempre a libertação, a buscar a Sobriedade.
Mas, o que é estar sóbrio?
Ser e Estar sóbrio NÃO
É estar sério, carrancudo, mal humorado, arrogante, controlador, vaidoso de
um saber puramente intelectual, em abstinência total de quaisquer prazeres ou
alegrias naturais e humanas, dono de uma “virtude” seca e murcha, distante de
sua humanidade e da humanidade das pessoas...
Também NÃO É o
estado de euforia, do prazer físico/psicológico/afetivo exagerado ao desfrutar de sua materialidade
no mundo!
Sobriedade é um estado de equilíbrio,
de temperança, de sanidade, que nos traz serenidade e tranqüilidade... mesmo
nos momentos de dor ante os desafios da vida.
A busca contínua de nossa sobriedade passa
pela reformulação de crenças que nos cobram impossibilidades, pela escuta e
pela capacidade de dar voz aos nossos sentimentos, pelas mudanças de
comportamentos. Passa também pela humildade de poder ouvir e sempre aprender,
pelo cultivo da auto-responsabilidade e auto-respeito. Passa pela descoberta da
compaixão, da generosidade, da verdade, da solidariedade...
No exercício perseverante desses
valores espirituais vamos conseguindo desfrutar nossa materialidade sem prisões,
compulsões e agonias e avançar para o Despertar de nossa Espiritualidade. Já
então, a nós, não basta a sobrevida, porque nos deslumbramos com a descoberta
de um novo sentido para a Vida!
Sobriedade
é a serena simplicidade que nos conduz à felicidade.