Éramos tão apaixonados! Éramos tão apegados! Éramos um do
outro!
Mas, com medo de nos perdermos,
quisemos controlar e modificar um ao outro para garantirmos nosso lugar, nosso
poder, nossa importância, nossa razão... Passamos a nos vigiar, “orientar”,
criticar, cobrar, disfarçar... E nos irritamos, nos magoamos, nos
decepcionamos... Tivemos medo, cada vez mais medo e ficamos inseguros,
desconfiados, agressivos... E nos desculpamos, muitas vezes, vezes demais. Voltamos
“às boas”, cheios de vontade de voltar a nos entregar àquela relação
apaixonada, embora nada, realmente, nos tivéssemos modificado... Ainda
queríamos modificar o outro!
A cada crise, a cada dissabor, a
cada desilusão, fomos nos encolhendo. Não querendo nos deixar machucar, fomos,
aos poucos, nos tornando rígidos e defensivos. Aprendemos a “botar gelo” nas
ranhuras de nosso coração e, assim, repetidamente esse gelo foi-se
solidificando, nos “concretando” e, finalmente, nos descobrimos a salvo de
dores, mas prisioneiros de nossas defesas. Nosso coração se fechou para aquela
relação e ela se tornou espinhosa, seca, rígida, amarga, fria, distante... Nem
doía mais!
Mas não é isso que queremos ou
precisamos! Queremos um viver mais próximo, mais docemente próximo das pessoas
que amamos ou que, no passado, amávamos!
Como aceitar sem raiva e mágoa o
fim das paixões e fantasias?Como me liberar para amar? Como conseguir
“re-sentir” a doçura de amar? Como me degelar e desarmar para amar? Como,
sequer, querer me arriscar a voltar desse distanciamento seguro? Como lidar com
o meu medo, com a minha insegurança? Como fazer para voltar a sentir a simples
doçura de me relacionar com ternura, com carinho e em paz?
Não posso recriar o passado bom
que desfrutamos, nem modificar o passado aguerrido e confuso que nos afastou.
Só posso aceitá-lo como uma realidade que se foi. Mas posso tentar entender meus
papéis naquele filme antigo. Posso também refletir com que crenças equivocadas
eu desempenhei meus papéis naquela relação e que expectativas ideais,
perfeccionistas eu exigi de mim e do outro. Crenças que me levaram ao “direito”
de cobrar, julgar, condenar, me afastar...
No presente, agora, a cada
momento, posso olhar para esse Outro como uma pessoa diferente de mim e de
minhas idealizações. Uma pessoa com suas mágoas, frustrações, medos,
inseguranças e, também, defendido e distante. Preciso sempre lembrar que não
posso modificá-lo, não posso fazê-lo voltar a ficar mais próximo, a sequer desejar
a proximidade que eu desejo! Só posso modificar o meu modo de Ser e Estar na
relação. Posso escolher guardar um espaço entre nós livre de invasões,
provocações, insinuações... Posso escolher palpitar menos e sorrir mais...
Posso escolher estar mais próxima, amigável, gentil, cordial...
O caminho
de volta, não ao passado, mas ao Outro de quem me distanciei, pode ser longo,
com acertos e desacertos, e requer paciência, perseverança e boa vontade
comigo! Mas vale a pena, porque vou em direção ao que busco para mim: uma
relação mais respeitosa, mais terna, mais leve, mais saborosa... pelo menos
para mim!