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segunda-feira, 26 de maio de 2014

VOLTAR !?


            Éramos tão apaixonados! Éramos tão apegados! Éramos um do outro!

Mas, com medo de nos perdermos, quisemos controlar e modificar um ao outro para garantirmos nosso lugar, nosso poder, nossa importância, nossa razão... Passamos a nos vigiar, “orientar”, criticar, cobrar, disfarçar... E nos irritamos, nos magoamos, nos decepcionamos... Tivemos medo, cada vez mais medo e ficamos inseguros, desconfiados, agressivos... E nos desculpamos, muitas vezes, vezes demais. Voltamos “às boas”, cheios de vontade de voltar a nos entregar àquela relação apaixonada, embora nada, realmente, nos tivéssemos modificado... Ainda queríamos modificar o outro!

A cada crise, a cada dissabor, a cada desilusão, fomos nos encolhendo. Não querendo nos deixar machucar, fomos, aos poucos, nos tornando rígidos e defensivos. Aprendemos a “botar gelo” nas ranhuras de nosso coração e, assim, repetidamente esse gelo foi-se solidificando, nos “concretando” e, finalmente, nos descobrimos a salvo de dores, mas prisioneiros de nossas defesas. Nosso coração se fechou para aquela relação e ela se tornou espinhosa, seca, rígida, amarga, fria, distante... Nem doía mais!

Mas não é isso que queremos ou precisamos! Queremos um viver mais próximo, mais docemente próximo das pessoas que amamos ou que, no passado, amávamos!  

Como aceitar sem raiva e mágoa o fim das paixões e fantasias?Como me liberar para amar? Como conseguir “re-sentir” a doçura de amar? Como me degelar e desarmar para amar? Como, sequer, querer me arriscar a voltar desse distanciamento seguro? Como lidar com o meu medo, com a minha insegurança? Como fazer para voltar a sentir a simples doçura de me relacionar com ternura, com carinho e em paz?

Não posso recriar o passado bom que desfrutamos, nem modificar o passado aguerrido e confuso que nos afastou. Só posso aceitá-lo como uma realidade que se foi. Mas posso tentar entender meus papéis naquele filme antigo. Posso também refletir com que crenças equivocadas eu desempenhei meus papéis naquela relação e que expectativas ideais, perfeccionistas eu exigi de mim e do outro. Crenças que me levaram ao “direito” de cobrar, julgar, condenar, me afastar...

No presente, agora, a cada momento, posso olhar para esse Outro como uma pessoa diferente de mim e de minhas idealizações. Uma pessoa com suas mágoas, frustrações, medos, inseguranças e, também, defendido e distante. Preciso sempre lembrar que não posso modificá-lo, não posso fazê-lo voltar a ficar mais próximo, a sequer desejar a proximidade que eu desejo! Só posso modificar o meu modo de Ser e Estar na relação. Posso escolher guardar um espaço entre nós livre de invasões, provocações, insinuações... Posso escolher palpitar menos e sorrir mais... Posso escolher estar mais próxima, amigável, gentil, cordial...

            O caminho de volta, não ao passado, mas ao Outro de quem me distanciei, pode ser longo, com acertos e desacertos, e requer paciência, perseverança e boa vontade comigo! Mas vale a pena, porque vou em direção ao que busco para mim: uma relação mais respeitosa, mais terna, mais leve, mais saborosa... pelo menos para mim!