Às vezes, o som de uma música, uma cena inesperada, um
cheiro, uma gulodice, uma coisa qualquer
ou especial... me arremessam ao passado, driblam algumas defesas e, então, eu
choro.
Choro sem
pensar, sem argumentar. Um choro sentido, doídos, de sentimentos que ficaram
aprisionados nas lembranças de pedaços de vida, da minha vida...
Choro pelo
tempo feliz de uma mocidade ainda sem grandes perdas, por um tempo de pequenos
“dramas” e grandes sonhos com fantasias românticas...
Choro pelas
paixões que me envolveram, me atordoaram, tiraram do rumo, depois se apagaram,
transformaram-se em “meus absurdos”...
Choro pelas “pessoas perfeitas”
que se esfumaçaram ante meus olhos assombrados e magoados...
Choro pela
jovem que tanto atropelou e falhou na perseguição dos sonhos impossíveis, na
fuga de muitos medos...
Choro pela
filha que decepcionou, pela mulher que se frustrou e desiludiu, pela mãe que,
desgraçadamente, muitas vezes falhou...
Choro por
tudo que sonhei ser e não fui, choro ainda querendo me perdoar...
Choro pela
força, juventude e utilidade que foram ficando no tempo...
Choro pelos
braços que me acolheram, braços que me conduziram e agora, frágeis, dependem
que eu os conduza... Choro por tantos outros que tanto me amaram, sustentaram, e
agora já me deixaram.
Choro pelos
jovens que me foram levados tão cedo, pelos beijos e carinhos que ficaram para
sempre aguardando novos encontros, em outras dimensões...
Choro pelos pequenos que foram “meus”
e, agora, crescidos, cada vez mais distantes, são do mundo...
Choro... apenas choro, sem
racionalizações, sem conversa, sem porquês...
Depois, enxugo as lágrimas, volto ao presente,
doída, moída, mas mais aliviada, compreensiva, e agradeço tudo que recebi, tudo
que pude viver nesse passado generoso e doloroso, de erros e acertos.
Assim são essas incursões ao passado. Às vezes, quando ele
me pega, eu choro...