Um dia, fui a um cemitério acompanhando alguns familiares em
visita “de rotina” à sepulturas de parentes. Ao caminhar olhando os túmulos,
lendo dizeres de homenagem e saudades nas lápides, fui sendo tomada pela
energia do passado, de vidas de outrora, daquelas pessoas que existiram por
aqui deixando suas marcas, mais fundas ou mais leves, longas ou ligeiras, mas
certamente fortes nos corações daqueles que os amaram. Chegamos a um pequeno
túmulo, onde estavam recolhidos os ossos de antepassados dos quais eu ouvira
falar, ouvira pedaços de suas histórias. Talvez pela isenção que a distância no
tempo nos traz, sem a força da memória e das dores mais recentes interferindo
nos julgamentos, pude, de repente, me dar conta de que aqueles nomes
representavam pessoas que por aqui estiveram marcando suas presenças com seus
sonhos, suas crenças, ilusões e desilusões, suas atitudes, suas lutas, seus
sentimentos quase sempre negados e escondidos, buscando acertar, querendo dar
certo e tantas vezes errando, falhando... Mas todas querendo ser felizes!
Eu me
emocionei, e ainda me emociono, numa atitude reverente ante aqueles nomes do
passado porque entendi, senti, que cada um deles fez o melhor que pôde, o melhor que conseguiu fazer, certo ou errado!
Entendi que todos nós, desde o mais remoto passado da
História até hoje, todos nós, estamos vivendo e dando à Vida o melhor que podemos, que conseguimos!
Acertando, errando, sendo muito bons ou muito maus, amorosos ou odiosos, gentis
ou brutos... sendo o que formos, estamos sendo o melhor que conseguimos naquele
momento! As conseqüências, os frutos bons ou maus do que fomos, colheremos
certamente depois, mas naquele momento, foi
o que se pôde!
Não adianta
nos crucificarmos, ou aos outros, pelo mal que fizemos, pelo bem que não
conseguimos fazer. Se fomos pequenos, mesquinhos, covardes, se erramos mesmo
sabendo que deveríamos fazer diferente, ainda assim, esse foi o nosso tamanho
naquela circunstância, fomos o que pudemos
ser. Acho importante ter essa percepção do processo de nós todos e poder
aceitar, mesmo com dor e até horror, os erros e fracassos do passado para poder
perdoar o que fui e aceitar a responsabilidade
de tentar, agora, ser melhor, mudar o que puder. É muito importante
tentar olhar os Outros e seus erros, passados e presentes, com essa mesma
compreensão.
Na vida de
relação, em quaisquer relações, mais próximas e na sociedade, precisamos
aprender a estabelecer e respeitar limites, fazer acatar as regras sociais e
não aceitar comportamentos destrutivos, maldosos, agressivos. Mas não posso acalentar a noção de que o
Outro é irremediavelmente mau! Temos, todos,
a mesma Origem! Ele está revelando apenas o seu tamanho, o que, nesse momento,
ele Pode. Não adianta eu me magoar ou me horrorizar, porque isto é o que ele
pode, é o que ele consegue ser – agora. A sociedade pode e deve cercear suas
atitudes, mas não desprezá-lo!
A Vida é um
continuum maravilhoso em direção ao Melhor. Temos, todos, a oportunidade de estar tentando, com erros e acertos, de
recomeçar a todo momento, mudando, nos transformando. Estamos todos nesta jornada, caminhando, Um dia
de cada Vez, como podemos.
Um Poder Superior, pleno de Amor e Sabedoria, entende o que
ainda somos e podemos e, paciente, amoroso e firme, aguarda o tempo de cada um
de nós.