Pesquisar este blog

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

O PODER DO AGORA


           Festas natalinas, final de ano e início de outro... datas emblemáticas que nos emocionam e chamam à reflexão. Elas costumam nos levar, nostalgicamente, ao passado ou nos remeter, ansiosos, às possibilidades  desconhecidas do futuro. E esses chamados do passado e do futuro são tão poderosos, que nossos momentos passam sem que, muitas vezes, possamos vivê-los intensamente no presente, no Agora!

            Somos chamados ao passado pela mídia em contínuas retrospectivas do ano que passou... E fazemos as nossas próprias, de natais antigos, do ano que termina. Ficamos relembrando entes queridos, no momento ausentes de nossos olhos, do nosso convívio. Estão viajando, são viajantes... em outros lugares, em outras dimensões. Relembramos tristezas, mágoas, expectativas frustradas... discussões, separações...
Lembramos também alegrias, mas já então esmaecidas pela saudade do que se foi, nubladas pelo tempo, muitas vezes pelas lágrimas...

            Ou nos deixamos arremessar para o futuro, para o próximo Natal, para o próximo Ano...  Como será? Quantos de nós ainda estaremos aqui? Conseguiremos mais ganhos? Teremos mais perdas? Quantas predições, quantos “profetas”...
Se o passado nos aprisiona na tristeza, o futuro nos assombra pelo medo do desconhecido! A incerteza que ele traz nos tira qualquer fantasia de controle, de segurança!

            Essas datas acabam por trazer, escondidas, muita dores. Talvez por isso precisemos rir muito, beber muito, comer muito, comprar muito... Fazemos, muito, muitas coisas, talvez para afugentar e disfarçar esses fantasmas incômodos do passado e do futuro. Só não nos lembramos de viver essas datas no presente, de curti-las verdadeiramente no Agora!

            Não fomos educados/condicionados para aproveitar o momento, sem lembranças ou projeções, para viver o único tempo/lugar que realmente temos – o Agora.  Nesse tempo não nos entristecemos ou assombramos, porque estamos ocupados - vivendo o momento.

            No Agora não há distância nem tempo a nos separar, no Agora estamos juntos!
Podemos nos falar, pensar, ouvir, sentir, sorrir, aceitar, perdoar, abençoar...
 - no Agora, exercitamos viver o real, o que É, o que se pode, o que somos...
 - no Agora, estamos protegidos da agonia do desconhecido, das expectativas, das incertezas do futuro, que nos drenam a coragem e a energia, para simplesmente vivemos da melhor maneira que pudermos.
 - no Agora, o Natal pode ser realmente uma celebração do Amor em nossas vidas e a “virada” do ano pode ser simplesmente o anúncio de mais um momento de alegria, de confiança na Vida, se assim escolhermos que seja.

            A vida é Agora... é uma sucessão de agoras! Cabe a mim estar atenta a eles, aos momentos que me são oferecidos e cuidar de cada um deles com a firme intenção de aproveitá-los ao máximo nessa caminhada em direção à minha liberdade interior, para realmente poder usufruir a alegria de estar  com as pessoas que passam por minha vida. Sou frágil e sofrida quando me deixo levar pelas distorções que criamos no tempo – o passado e o futuro. Mas é aqui, no Agora, que está todo o meu poder. É aqui, no Agora que decido ser quem sou e como vou lidar com meus desafios. É aqui, no Agora, que posso decidir ser feliz.  Esse é o Poder do Agora.

domingo, 22 de dezembro de 2013

O HOMEM DE NAZARÉ


            Povos em todo o mundo comemoram nessa época o advento desse “Homem de Nazaré”. A que veio esse enviado tão especial de uma Luz Maior? Por que sua mensagem tão diferente, “revolucionária” em sua mansidão, tem servido a quaisquer homens, de quaisquer culturas ou tradições, através dos tempos?

            Talvez porque ele tenha apontado um caminho novo à nossa humanidade aguerrida! Ele nos mostrou uma nova possibilidade para a velha busca do homem pela felicidade, da busca para atingir as delícias de um Reino de Deus tão prometido.

            Ele chegou, simples e manso, demonstrando que nossa condição humana também abriga nossa origem divina. Sua vida e doçura mostraram o caminho que pode nos orientar nossa jornada do Humano ao Divino.

            Sua mensagem foi e, infelizmente, ainda é, revolucionária porque é a do aprendizado do Amor, num mundo ainda tão materialista. É uma mensagem que nos convoca à atenção interior, amorosa, honesta, gentil e corajosa; uma atenção que possibilita a descoberta de nossa luz sob nossa sombra. E dessa caminhada interior saímos humildes, humanizados, prontos a entender e amar nossos semelhantes, sem disputas, sem comparações, com aceitação, respeito, cooperação, partilha...

            Ainda somos, em grande parte de nós mesmos, surdos à essa “Boa Nova” e teimosos em nosso orgulho, em nossas certezas e hábitos mundanos. Admiramos e louvamos, aplaudimos e até queremos levar a Mensagem, mas não a vivemos para provar a nós mesmos o quanto é verdadeira, o quanto pode nos levar à felicidade. Mas, esse Homem de Nazaré, esse que nos trouxe a mensagem melhor, sabe que o “Amor é paciente e é generoso”. Ele ainda, e para sempre, espera o tempo de cada um de nós... porque a chegada, ainda que demorada, é certa para nós, herdeiros desse testamento de Amor, herdeiros da Luz Maior.
  
            Mas o poeta nos chama, porque não vale a pena mais tempo a perder!
- Ei, irmão! Vamos seguir com fé, tudo que ensinou o Homem de Nazaré...



terça-feira, 17 de dezembro de 2013

DEFENDA SEMPRE O AUSENTE !


           Existe o mau hábito, quando nos reunimos, sem assunto, de tornarmo-nos maledicentes – dizermos mal das pessoas ausentes. Nesses momentos, queremos contar “novidades” que ouvimos de outros, “fofocar” e tecer juízos sobre pessoas que não podem se defender ou esclarecer tudo que foi levantado sobre elas ou suas vidas.

            No afã de nos sentirmos leais e pertencendo àquele grupinho do momento, queremos “mostrar serviço”, “estar mais informados”, fazer graça, sermos críticos das atitudes do ausente, querendo demonstrar que jamais seriam as nossas, que somos melhores...
Na verdade, sem nos darmos conta, invadimos e julgamos, com irresponsabilidade, com insensibilidade, com crueldade e desrespeito, a vida e a personalidade das pessoas. Repassamos o que ouvimos, com veracidade ou não, de pessoas, públicas ou não! E dificilmente repassamos elogios!!!
Nossa vaidade nos faz acreditar estarmos sendo os escolhidos pelo grupo, os admirados e os aplaudidos, escolhidos para dizermos e ouvirmos as críticas e confidências sobre os outros. Sentimo-nos protegidos por essa escolha, por essa “confiança”, por fazermos parte do grupinho.
Então, achamos engraçado ironizar o ausente. Sentimo-nos defensores “do bem”. Parece que, enquanto falarmos dos outros, evitaremos que façam o mesmo conosco. No entanto, atenção! Isso não nos garante a lealdade de pessoas que já se mostram desleais e insensíveis... Será que seremos nós os criticados quando formos nós os ausentes?

            A maledicência alimenta a desconfiança e traduz luta latente nas relações. Ela mina a unidade dos grupos, na família ou não, porque pressentimos a falta de generosidade e lealdade entre as pessoas.
Por que usarmos a oportunidade de estarmos juntos e o poder das palavras para criticar, julgar, condenar e punir gratuitamente as pessoas, próximas ou não?
Por que não aproveitarmos para o elogio, a lembrança carinhosa ou a desculpa generosa? Por que não, ao menos, o silêncio, o respeito?

            Uma atitude amorosa, leal e gentil faz muito bem a nós mesmos e ao grupo. Quando estou tentada a participar do triste festim de esquartejar pessoas pela maledicência, procuro lembrar-me de um mestre que sugeriu:

                        DEFENDA SEMPRE O AUSENTE !


quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

CARÊNCIA E APARÊNCIA


           Vivemos hoje, ainda, sob o poder de nossa mente condicionada por um modelo, por um paradigma, racional/materialista. É um modelo de luta e força, de eterna competição: material, afetiva, psicológica, intelectual, técnica, religiosa, política, esportiva... Será bom, respeitado, imitado, poderoso, quem tem/possui mais: poder, saber, prestígio, estética (da moda), status, seguidores, coisas e pessoas/coisas! Nesse modelo, ninguém quer Ser,Ter ou Parecer Menos!

Ansiosos, necessitados de sermos Mais para sermos vencedores, merecedores de aplauso, de atenção, de valorização e afeto, nos obrigamos a uma corrida sem fim para disfarçar nossas imperfeições ou nossas carências físicas/materiais/afetivas. Lutamos todo o tempo para, ao menos, parecer tudo que já não somos ou que ainda não somos.

Fisicamente, “malhamos”, nos plastificamos, nos colorimos/ descolorimos, nos maquiamos, nos marcamos, nos furamos, ingerimos químicos, variados químicos para variadas finalidades... Tudo, enfim, pela aprovação social que nos exige força, eterna juventude, estética perfeita...

 Nossa mente condicionada, nosso ego, exige também sucesso, e precisa de toda essa aparência de beleza e força para tentar suprir nossa carência psicológica e afetiva.  Nossa mente acredita que precisamos Parecer, Aparecer, Sobressair para sermos queridos e valorizados, que precisamos disfarçar e esconder sentimentos, que não podemos demonstrar “fraquezas”, que precisamos parecer fortes, indiferentes às dificuldades. Ou  que precisamos nos fazer de fracos , parecer vítimas, para buscar afeto e valorização como sofredores!

 Na verdade, tanta carência de cuidados, atenção, verdade e carinho conosco mesmos, aumenta nossas dores e demanda mais esforço para Parecer! Tentamos nos anestesiar com trabalho, alimentos, químicos, gastos, desgastes, rezas, paixões... Tentamos inutilmente enganar a nós e ao mundo. Parecer custa muito e anestesias custam ainda mais, porque nos mantêm encalhados na vida, impedem nosso contacto com a única dimensão que pode nos nutrir afetivamente e nos libertar da escravidão aos dogmas do ego mundano.

Nossa dimensão espiritual, certamente nossa dimensão, hoje, mais desconhecida e descuidada, só pode ser nutrida por nós mesmos, com Cuidados, Carinho, com Verdade e Aceitação. Esses cuidados não requerem luta ou esforço para parecermos quem não somos. Precisamos apenas nos descobrir (com atenção e honestidade), acolher nossos sentimentos, nos apaziguarmos, aceitando quem somos, gerando assim forças para as mudanças libertadoras, e entusiasmo para a descoberta dos nossos caminhos para a felicidade.

Carências internas se transformam em um buraco sem fundo quando tentamos alimentá-las com materialidade, aprovação e afetividade externas, do mundo, buscando o consolo de pelo menos “parecermos” bem e felizes.

            Carência interna é o chamado, o grito de nossa alma, dizendo-nos que precisamos aprender a nos ouvir, a nos dar voz, a sermos eternamente verdadeiros conosco e leais à nossa felicidade.


sábado, 7 de dezembro de 2013

UM VELHO TIO


            Ele era um tio “emprestado”. Era muito querido, alegre, generoso, brincalhão...
Ele se foi! Já não o via há algum tempo. Morávamos distantes e ele estava muito idoso. Mas como doeu saber que ele se fora! Agora já não estaria ao meu alcance físico! Agora seriam só lembranças...
Lembrança gaiata da última vez em que nos vimos, quando o abracei com entusiasmo e força e ele, velhinho e fraquinho, gemeu: ai, ai! E nós nos rimos!

            Sinto que estou chorando mesmo é por uma fase muito boa da minha vida que já passou - dias de risos e brincadeiras passados com aqueles tios e primos... Ele era o último elo com a memória daqueles pedacinhos maravilhosos da minha infância!

            Meu companheiro, meus filhos e netos, pouco o conheceram, não viveram nada disso. Não posso compartilhar com eles as lembranças, nem tão pouco essa perda. Não consigo me sentir “entendida” em minha tristeza. Na verdade, nossos momentos são quase individuais! Quanto mais o tempo corre, menos temos parceiros que possam, realmente, sorrir e chorar conosco as nossas memórias. Essa é uma das faces da solidão que nos ameaça na velhice.

            Nessa perda, fui me despedindo dessa fase de minha infância, que já se fora há muito, mas que, com ele, eu me enganava que ainda estava ali.
Nesse luto, revi alguns primos, conheci novas gerações da família...
Agora, vou enxugar as lágrimas, honrar sua memória, sua passagem pela minha vida, sorrir das boas lembranças...

É isso! É a Vida continuando, passando, renovando experiências, em todas as suas dimensões - para mim, para ele, para todos nós!


segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

DE CORAÇÃO ABERTO - II


            Tanto ouço, vejo e falo sobre a violência, a falsidade, a maldade, nesse mundo em eterna competição, nesse mundo onde até manequins na vitrine são sérios, zangados, de punhos fechados... e os manequins vivos, desfilam duros, marchando, sem sorrisos, agressivos, distantes... Nesse mundo onde atletas comemoram vitórias, não com alegria, mas cerrando os punhos, socando, xingando... e os jovens universitários, com deboches e torturas! Mundo onde crianças brincam com bonecos/as monstros, jogos de guerra, livros com ilustrações retilíneas, estilizadas, feias, frias...  Nesse mundo tão sem curvas, sem risos alegres ou gaiatos, sem ternura, sem “fofura”, sem gostosura... Nesse mundo esquisito que não nos aquece, que parece mais nos espetar, arranhar, assombrar... Nesse mundo... acabamos por nos bloquear, defensivos, muito focados nos “perigos”, com coração fechado, sem espaço para expandir-se, para emocionar-se, impedido de soltar-se, de entregar-se e Amar!

            Minha mente aguda e analítica analisa tudo e todos, criticando, desconfiando, querendo ver através das máscaras de cada um, principalmente o “lado mau”. Caminho com a mente fechada e alerta, sem acreditar em sorrisos, em demonstrações de afeto e emoção, em nada de bom nesse mundo e até mesmo na família! Prefiro muitas vezes me dedicar aos animais, porque parecem ser menos perigosos! Assim, tento estar a salvo de me deixar atingir! Mas o preço está muito alto!

            Sinto uma aridez em meu peito, sinto meu coração secando, oprimido, opresso. Sinto falta de olhar nos olhos das pessoas, sem medo de me revelar, ainda que seja só um pouquinho. Necessito acreditar em seus sorrisos, em seus carinhos. Preciso olhá-las e procurar ver o que têm de melhor, acreditar que sob suas armaduras existe luz e emoção verdadeiras... Talvez assim consiga ir abrindo mão de minhas próprias defesas, tão cerradas! Quero sentir nos outros as emoções que também me empolgam, para me sentir mais juntinho deles.
Mesmo compartilhando uma época tão cínica, violenta e cruel, lidando com essa realidade que me leva a defesas físicas/psicológicas, preciso e quero abrir meu coração para desfrutar as doces emoções da ternura, da compaixão, da generosidade, da alegria... Na medida do possível, quero me aproximar das pessoas, acolhê-las (ainda que sem me deixar invadir), mas acolhê-las em seus medos, dores, confusões... e poder, também, usufruir seus dons únicos e maravilhosos, que me nego a ver, “por segurança”.


            Armaduras nos defendem, mas também nos aprisionam, nos isolam, nos deixam desnutridos, infelizes... Um dia de cada vez, quero começar a abrir, corajosamente, minhas defesas para poder sentir-me aquecida, viva,  e pertencendo à essa minha espécie, ainda tão complicada e tão humana!

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

ESPERE UM CHAMADO...


           Gosto de ajudar! Gosto de ajudar, principalmente aqueles que amo! Gosto e acredito que é meu dever ajudar a quem precisa!  Gosto de cumprir bem meus papéis familiares e outros... ajudando a todos onde esteja! Mas hoje já me pergunto: O que é ajudar? Como ajudar?

            Eu achava que devia me adiantar a qualquer chamado, por amor, evitando que o Outro tivesse que viver o “desconforto de pedir”. Eu não queria, nem devia, esperar que o Outro precisasse reconhecer que tinha uma dificuldade, que precisasse dizer o que queria para que eu pudesse auxiliá-lo, se pudesse. Acreditava, sim, que devia correr a ajudá-lo da forma que, a mim, parecia a melhor. Queria poupar, queria ajudar, queria solucionar!

            Não percebia que, em nome do amor ou da generosidade, eu simplesmente invadia a vida das pessoas, principalmente, a vida das pessoas que mais amava, que eram “meus” familiares, resolvendo à minha maneira, tudo o que achava estar “errado”.  
Querendo orientar, por me sentir mais experiente, eu me intrometia em assuntos que não eram meus e tomava decisões que não cabiam a mim. Não percebia o quanto essa “ajuda” era invasiva e não produzia bons resultados, na medida em que levava a uma acomodação, ainda que irritada, da parte daqueles que recebiam a facilitação. E em algum momento, muitas vezes, fui cobrada pelo que “deu errado”. Eu eximia o Outro de qualquer responsabilidade por suas escolhas e por sua vida. Quando ajudava, com concessões e facilitações gratuitas e contínuas, estava ensinando-lhe a usarem e abusarem de quem era invasivo, mas disponível.
Quando “ajudava” fazendo pelo Outro o que era de sua responsabilidade e competência, eu na verdade estava demonstrando que sabia mais, podia mais e ele, não! Ele ficava apenas como devedor! Eu o apequenava e o humilhava quando, por amor, me intrometia e o atropelava.

            Hoje estou, finalmente, descobrindo que essa “ajuda” incapacita, humilha, acomoda, impede as pessoas de serem criativas e corajosas ante os desafios da vida.
 - Estou descobrindo que essa ansiedade, esse afã de ajudar, me intrometendo e invadindo, revela uma crença equivocada do que seja ajudar e dos meus papéis aprendidos. Revela, também, aspectos menos generosos de minha personalidade como arrogância, prepotência, presunção, pretensão... aspectos que eu nem percebia !  (Tem que ser do meu jeito! Eu sei mais e melhor! Eu te amo, você é o meu amor, eu sei o que é melhor para você! Seja grato, eu estou me sacrificando por você... )
 - Preciso aprender a segurar minha ansiedade, meu apego, minha necessidade de ser necessária... e todos esses aspectos do meu insuspeitado orgulho.
 - Preciso aprender a respeitar a história, os desafios e os momentos das pessoas, de quaisquer pessoas, mesmo as que mais amo.
 - Preciso aprender a desencorajar as dependências que minhas atitudes criam nas pessoas, libertá-las e aprender a incentivá-las ante seus desafios.
 - Preciso aprender a comunicar minha confiança na capacidade das pessoas, minha disponibilidade, minha atenção, meu carinho, minha parceria e esperar, com respeito, um chamado!

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

FOGUEIRA DE VAIDADES


           Aprendemos desde sempre a tentar nos mostrar o “melhor”, buscando, assim, aprovação e valorização em todos os grupos onde estivéssemos. (Família, escola, igreja, trabalho...) No afã de sermos os escolhidos, os melhores, estamos sempre nos comparando, competindo, tentando para isso esconder “defeitos indesejáveis” e distorcendo exageradamente nossas reais qualidades. Precisamos que essas qualidades sejam muito vistas e validadas pelo Mundo. Precisamos que elas sobrepujem as dos outros, sejam elas qualidades físicas ou intelectuais. Tornamo-nos vaidosos até de valores espirituais!!! (caridade, bondade, capacidade de perdoar...)

            Assim é a Vaidade. Ela se nutre de exagerados elogios, até bajulação, e nos lança na contínua luta pelo prestígio, “sucesso”, poder... Ela nos aprisiona a essa busca contínua de aplausos, elogios, incensos... e nos enche de medo a qualquer ameaça à nossa boa imagem.

            A Vaidade é a característica que nos torna submissos aos aplausos do Mundo. Os incessantes elogios que recebemos e/ou buscamos aquecem nosso ego, fazendo-o “baixar a guarda” contra manipulações, amortecendo suas defesas e desconfianças, abalando nossa clareza e nosso senso de realidade.  Elogios, endeusamento, bajulação, são sempre a melhor forma de nos manipularem ou de manipularmos os outros. Nossa necessidade de valorização vai-se tornando tão grande, que passamos a acreditar nas “verdades” mais improváveis! Acabamos por perder o senso crítico e passamos a delirar no deleite de acreditar naquilo que nos envaidece!  As relações, assim, mesmo as mais íntimas, transformam-se em jogos de sedução e poder.

            Vaidosos, antipatizamos e “implicamos” com os que não nos elogiam ou que ameaçam nos “fazer sombra” por suas qualidades. Acabamos por nos relacionar de forma medíocre, sempre competitiva, através dessas máscaras que criamos e trocamos uns com os outros. E muitas vezes nos perdemos nessa “fogueira de vaidades” em que se transformam nossas relações.
Vaidosos, ficamos fascinados pelo “canto da sereia” e vamos perdendo-nos  de nós mesmos. Num momento de verdadeiro “armagedom”, da luta final entre o Bem que buscamos e o Mal que ameaça nos envolver, volta à lembrança as palavras desse “poder maldoso” num filme que vi:
-- Vaidade humana, tu és minha maior aliada!

            Como lidar com a Vaidade, tão entranhada em nossa própria humanidade? Como não alimentar essa fogueira, esse embate de egos assustados e tão necessitados de acreditar em seu próprio valor?
Quanto maior nossa carência de foco interno, de um olhar interior, carência  da nossa capacidade e vontade de nos descobrirmos, nos aceitarmos e nos valorizarmos, mais ficaremos reféns da necessidade de aplauso do Mundo e  maior será o medo de nos sentirmos menos.
Elogios reais e simples são muito bons, são gostosos, e nosso ego, ainda tão infantil, agradece. Só não podemos “viciá-lo”, torná-lo dependente dessa nutrição artificial, dessa nutrição externa. A Vaidade pode nos hipnotizar e é porta de entrada para distorções de nossa personalidade, pode nos aprisionar no auto-engano. Atenção! O preço da liberdade é nossa contínua atenção amorosa conosco mesmos e a certeza de sermos a incrível pessoa que somos, com humildade, simplicidade, alegria – sem comparações, sem necessidade de exageradas confirmações externas.


domingo, 17 de novembro de 2013

UM DEUS QUE VOCÊ POSSA ALCANÇAR


            Deus pode parecer uma abstração, uma idéia distante, uma possibilidade controversa e controvertida em embates religiosos que nos foram trazidos desde a infância.  Muitos nos decepcionamos, zangamos, até desacreditamos, de um deus que não atendia às nossas orientações (sob a veste de preces), aos nossos lamentos de injustiçados; um deus que diziam ter poder, mas parecia não ter nenhum bom senso!...Um deus que minha mente racional, científica, intelectual, não comprovava!  Eram tantos questionamentos... mas persistia um vazio Dele! 

            Como concebê-Lo, agora, eu mesma?
Ouvi de um companheiro:  “Procure um Deus que você possa alcançar!”
É isso! Um deus que eu sinta, “veja” e “toque” em meu mundo, no meu dia, na minha vida!
 - um deus que eu sinta quando me aqueço na ternura de abraços queridos, nos risos alegres de companheiros, no carinho de mãozinhas infantis; que eu sinta quando meu peito se expande em momentos de compaixão, quando desfruto da fidelidade amiga dos animais...
 - um deus que eu descubra presente, concreto, através do cuidado, da acolhida, da compreensão, da aceitação, do respeito e gentileza das pessoas em seus momentos de amor.
 - um deus que nos habita e então se revela nos nossos gestos de justiça, solidariedade e verdade...
 - um deus que assombra meus sentidos e até minha racionalidade em seu espetáculo cotidiano em toda natureza!
 - um deus que cada vez mais vou alcançando na medida em que vou abrindo meu coração, minha alma, meus sentimentos... para o exercício das diversas nuances de Seu Amor.

            Não queira eu, racionalmente/mentalmente desvendá-Lo com minha mente ainda tão pequena e incipiente! Ela não pode abrangê-Lo! Tenho pacientemente “conversado” com ela, tola, arrogante, questionadora. Tenho procurado apaziguá-la com simplicidade:
_Não complica, não rotule, não queira “estudá-Lo”...  Não crie tampouco modos de venerá-Lo... Basta senti-Lo e vivenciá-Lo, um dia de cada vez, como puder...
  
            Preciso abandonar idéias, ultrapassar a mente, as crenças alheias, os pensamentos direcionados...
 Preciso apenas senti-Lo através de minha alma sedenta de Sua Essência, de Seu Amor - um Amor que nutre, aquece, acolhe... Amor que me faz serena e me traz felicidade. Essa minha alma sentida, sensível, é o elo vibrante/vivo entre minha mente racional e mundana e o meu espírito, centelha pura dessa Luz Maior. Descubro a sabedoria da sugestão que recebi - procurar um Deus ao alcance de minha humanidade, porque Ele o tempo todo está aqui, ali, comigo, com tudo – Ele É e Está em total Sabedoria e Amor.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

FICA MAIS UM POUCO...


           Quando criança, muitas vezes tentei, ansiosa e assustada, segurar as mãos de minha mãe, buscando retê-la um pouco mais junto a mim, querendo retardar as despedidas, querendo afastar o momento de ficar sem sua companhia... Mas ela precisava sair e saía... É assim!
Quem parte, leva e deixa saudade... Quem fica, não quer ficar sozinho!

            Cresci e então eu, como antes meus pais, é que tinha que soltar as mãozinhas que tentavam me reter, me segurar... Precisava sair, partir, ir ao mundo... E agora são, também, meus pais, já idosos, com limitações que ainda mais os isolam, os que tentam reter um pouco mais a minha atenção, a minha companhia...

            Revejo essas passagens na minha história, de mim menina querendo o colo de minha mãe, de mim quando jovem, forte, apressada, trabalhando, vivendo sem tempo para curtir mais a presença das crianças e a sabedoria serena dos mais velhos e mais carentes... Começo a entender e sentir melhor a ansiedade medrosa da infância, a solidão dos velhos já sem “sua turma”, seus companheiros, todos querendo reter uma presença amada, tentando esticar uma visita rápida, buscando uma voz querida ao telefone,  agoniados pela iminência da saída de quem amam e de quem tanto precisam.
           
            Cada vez mais sensibilizada pelo meu próprio viver, busco entender que todos nós, quando fragilizados pela pouca ou muita idade, pela doença, pelos infortúnios e tempestades da vida, marginalizados, esquecidos... precisamos de atenção, precisamos estar juntos para recebemos a energia vital que emana do cuidado e da presença uns dos outros, para nos sentirmos vivos, valorizados e  amados.

            Hoje, com bem mais idade, tendo visto as crianças crescerem, os jovens saírem, os pais ficarem muito idosos e eu mesma começando a enfrentar algumas limitações e os vazios das suas presenças queridas, posso  avaliar melhor a importância de estarmos juntos. Com alguma tristeza e ironia, me vejo arranjando pretextos para tentar esticar conversas, arranjar assuntos... E me vejo repetindo para os mais jovens, sempre apressados:

- Espera, espera!  Fica mais um pouco!


quinta-feira, 7 de novembro de 2013

GENTIL ENCONTRO


            Quando pensamos em Encontros, pressupomos encontros saborosos, gostosos, encontros gentis ou até amorosos. Podem ser pessoais, profissionais, encontros com a natureza e até com objetos queridos, mas sempre nos trazendo gosto e alegria!

            Pensamos em nos encontrar com algo ou alguém, mas não pensamos em um Encontro conosco mesmos! Não me ocorria como estar comigo de modo consciente, íntimo... e amoroso! Vivia distraída de mim, escondida de mim, alienada de mim, censurando a mim... num desencontro constante! Nem percebia como esse desencontro me trazia um estado de confusão e vazio que tentava preencher buscando, mais e mais, encontros fora de mim. Encontros que se transformavam em apegos, lutas, tentativas de controle com medo de perder... e em outros desencontros!

Mas, como é ter um encontro gentil e amoroso comigo mesma? 
Ficava me perguntando, às vezes, confusa! E então me lembrei: “Mantenha-o Simples”! Tudo é simples, porque complicar? Só preciso lembrar-me que esse estar comigo deve ser prazeroso, para eu não querer desistir do Encontro!

Na verdade, entendi que esse será, antes de tudo, um encontro com meu ego! Esse meu ego que foi condicionado a ser competitivo, arrogante, defensivo... Ele molda meus pensamentos/sentimentos/atitudes, por isso preciso ser cuidadosa, corajosa, honesta e gentil na busca desse encontro. Preciso “escutar”, de verdade, com o coração aberto, meus pensamentos, meus sentimentos (até os censurados!) para conhecê-los, sem justificativas ou máscaras, para realmente saber dessas partes de mim, tão escondidas.  Preciso acolhê-los sem luta, apenas aceitando-os, para poder então decidir se me são positivos ou se devo libertar-me deles.

            Escolho, então, caminhar para esse encontro com honestidade, sem medo, sem culpas, vergonhas ou punições – apenas com verdade e vontade de ser melhor e mais livre.  Escolho ser bem humorada, paciente, firme e gentil com minhas dificuldades.  Escolho me aceitar e perdoar por não ser ainda quem eu queria ser ou quem queriam que eu fosse!  Escolho fazer desse constante encontro momentos de generosidade e compaixão, sem me deixar cair em permissividade ou desânimo... Escolho cuidar-me gentil e carinhosamente, me libertando e indo ao encontro do melhor de mim.

            Esse cuidar gentil e amoroso me desperta para minha dimensão espiritual. Aí habita uma Luz Divina e é minha responsabilidade primeira a constante busca, através de meus pensamentos/sentimentos/atitudes, de uma sintonia cada vez mais sutil e delicada com essa Luz Interior. E nessa doce sintonia, em cuidados amorosos, sem lutas ou desencontros, vou ao gentil encontro de mim...

sábado, 2 de novembro de 2013

QUARTO VAZIO


            Mais um quarto vazio! A casa cada vez mais vazia! Éramos tantos... E tantos já se foram...

Vários, em meio a risos e festas, foram formar novos ninhos, aguardar novas ninhadas. Sorrimos e festejamos aqueles instantes de alegria, celebrando a continuidade e enriquecimento da família, sem querer pensar na etapa que se encerrava, em tudo que ficava para trás; sem querer adiantar o vazio dos dias seguintes, confiando no milagre da Família, que providencia reposição das perdas pelas novas gerações que vão chegando.

Outros, se foram à revelia de nós todos, pela decisão de um Poder Maior e mais sábio, decisão que acabamos por aceitar, sem jamais gostar, sem conseguir jamais ocupar aqueles vazios... Acabamos por aceitar, cheios de dor, espanto, incredulidade, saudade...

Por motivos alegres ou dolorosos, a cada saída ficou o eco de seus passos, risos, reclamações, má-criações, carinhos, solicitações... Eles ainda ressoam em cada cômodo, nos quartos onde sobram camas, livros e armários, na grande mesa, no quintal, no jardim, no carro, na casa da praia... Ouço nossas conversas e choro pelos momentos corridos em que não conversamos muito mais... Choro pelo que tão pouco ouvi de seus sonhos e seus sentimentos escondidos... Choro pelo que deixei de conhecer melhor de vocês, que tanto amava. Choro pelo que deixei de revelar de mim, tentando sempre dar instruções preocupadas e repetitivas a vocês... Nesse ninho, muitas vezes, cuidamos de vocês de forma precária, corrida, com uma eficiência muito menor que o amor que nos empolgava. Choro por todos os detalhes de nossas vidas juntos, que me assaltam em constantes lembranças.

Mas, hoje, nesse instante, não quero pensar mais nesses vazios. Não quero ficar refém de lembranças de um passado maravilhoso, mas sempre aquém do tanto mais que desejávamos para nós. Não quero, também, empanar o brilho de seus novos começos e não quero tirar a força do meu continuar.

Quero descobrir novas maneiras de estarmos juntos, fisicamente ou não, porque “longe é um lugar que não existe” quando tanto nos amamos.

Quero tentar viver o aqui/agora a cada instante, com a certeza de que sou responsável por tornar minha vida sempre melhor e mais amorosa. Desejo que nosso ninho tenha podido, apesar de tudo, preparar vocês para isso também, para acreditar no Amor como a força que nos transforma e dá sentido à nossa vida.

Hoje não quero “pensar triste”!

“Amanhã será outro dia” e estamos todos chamados a vivê-lo da melhor maneira possível e na delícia desse nosso Amor!

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

O PESO DE NOSSOS ERROS


         O peso de nossas falhas se faz sentir dolorosamente em nossos corações, quando finalmente conseguimos enxergá-las.
A princípio, na luta por nosso espaço, nosso poder, nossos gozos, nossos apegos, nossas paixões... não reconhecemos muitas de nossas atitudes como falhas. Nós buscamos (e achamos!) explicações, desculpas e justificativas para nosso egoísmo, nossa covardia, ao procurarmos nos defender de possíveis perdas, ao fugirmos de assumir as conseqüências de nossos atos, ao lutarmos, atacando, para tentar suprir nossas carências. E para isso mentimos, escondemos, nos escondemos, invadimos, seduzimos, nos deixamos seduzir, manipulamos, fingimos, negamos... Tantas vezes atropelamos ou nos omitimos para nos resguardar de perdas ou para obter ganhos, mesmo causando dores e danos.

            Num processo de crescimento e amadurecimento, finalmente conseguimos “ver”, entender, as verdadeiras faces de nossos atos, sem os mascarar ou justificar. Falhamos e nossos erros causaram confusão, raiva, dor, sofrimento, nas pessoas, mesmo nas mais queridas! Essa visão clara e honesta traz a culpa, a vergonha e a humilhação por não termos sido melhores. Hoje entendo que ficar remoendo esses sentimentos dolorosos e negativos me mantém refém do meu orgulho, da minha arrogância, da minha prepotência, por achar que eu era melhor, que sabia mais, que não iria errar. Talvez outros poderiam ser perdoados, eu não!

            O peso dessa luta interna se traduz em muita dor. Posso ficar aprisionada nessa dor como auto punição, remoendo um remorso eterno ou posso ser sinalizada por ela para rever meus erros, descobrindo meu real tamanho, aprendendo a ser humilde, a aceitar o que fiz e o que fui (e aceitar não é gostar!), aprendendo a não julgar e condenar tão facilmente as pessoas, aprendendo a usar o reconhecimento dos erros e o arrependimento como base segura e honesta para um caminhar melhor pela vida.

            E a dor real de magoar as pessoas, queridas ou não?
É triste saber que nem toda minha dor pode corrigir o passado! A dor existirá sempre que lembrar desse passado. Ela faz parte da vida, das perdas e danos, mas pode me ensinar a transformá-los em algum crescimento. O peso dessas dores será um eterno alerta para o meu atual caminhar!

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

DISTRAÍDOS !


          Somos seres distraídos de nós mesmos! Estamos de passagem num Mundo que nos mantém distraídos, talvez para não nos perder. Esse Mundo cuidou de nós, investiu em nós suas verdades, idéias, técnicas, regras... e acredita que, se somos parte dele,  devemos ser conduzidos e condicionados por ele para pensar, sentir e agir. Enfim, ele dita o que podemos/devemos e o que não podemos/não devemos... ser e/ou fazer.

            Tentando manter nosso interesse e atenção, o Mundo nos acena com promessas de prazeres físicos/materiais -  sabores, cheiros, cores, valores/dinheiro, viagens, sexo, esportes... Promessas de outros prazeres - de homens e mulheres de sucesso, vencedores, de preferência jovens, bonitos, ricos, fortes, eternos...
            O Mundo também nos distrai criando necessidades estéticas, necessidades de novidades tecnológicas... Ele nos envolve em confrontos/disputas de opiniões, em esportes, política, trabalho... em jogos de poder, jogos de guerra – pessoais ou entre nações.

            Somos ainda distraídos e manipulados pela mídia (jornais, filmes, novelas, TV, internet, etc), pela quantidade cada vez maior( e desencontrada) de informações de todo tipo, pelos jogos e por relações virtuais, pelas “revelações e promessas religiosas de salvação”  cada vez mais abundantes e disputadas...

            E o Mundo nos mantém ligados a ele, com “ameaças/promessas” de perder ou ganhar segurança, amor e aprovação! Ele me diz como devo ser para ser aceito, amado, aprovado e valorizado!

            Mas, afinal, o Mundo nos distrai de que/ De quem?
De nós mesmos! De mim, de minha Consciência, de um chamado maior/melhor dessa minha dimensão interior que pode me dizer quem realmente Sou, o que realmente penso, sinto, posso... Que tem o poder de me fazer feliz! O Mundo me distrai e não me deixa ouvir o que me chama, impede a escuta desse chamado, dessa con/vocação primeira, primordial, principal – Cuidar do Ser que sou!

            Na verdade, como é difícil estar comigo em meio a tanta distração, em meio a tantas “obrigações mundanas”!
Como me ouvir/olhar para me descobrir, me conhecer, poder me aceitar, me respeitar, me responsabilizar pelo meu caminhar, pelo meu florescer, pelo meu libertar?

            Preciso estar atento para inverter esse movimento que me leva e me aprisiona lá fora, nas distrações de fora. Preciso lembrar que o Mundo, aparentemente tão concreto e real, é Maia, é ilusão. Ele é o que passa, o que um dia morre e acaba, ele é tudo que vou deixar para trás. Preciso trazer-Me para Mim! Preciso de vontade, de boa vontade, paciência, ternura, entusiasmo, perseverança... para iniciar e dar continuidade a esse cuidar amoroso que cria intimidade comigo mesma, que me faz confiante em mim, nas minhas possibilidades de tornar-me feliz.

            Nasci para Ser. Nasci para, cada vez mais, libertar e enriquecer o Ser  que Sou! Para oferecer ao Mundo tudo que Sou, tudo que posso Ser a cada momento, em vez de copiá-lo, contestá-lo ou cobrá-lo...

O poder está em mim! Só não posso é me deixar distrair!

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

O INESPERADO


            As surpresas, o inesperado, chegam junto com o instante, a qualquer instante de nossa vida. Nós tememos as surpresas, boas ou más, na medida em que nos roubam o conhecido, o estabelecido, aquilo a que estamos acostumados.
Preferimos antegozar as lindas fantasias ou até mesmo “sofrermos com segurança” e nos preocuparmos com possíveis problemas do que enfrentarmos o inesperado. Na verdade, sentimo-nos tão ameaçados pelo novo que preferimos nos preparar, até mesmo para o pior. Preferimos preparar nossas defesas para o doloroso ou estarmos melhor preparados para usufruir as boas novas.

            O Inesperado chega sacudindo-nos, tirando nosso “chão”, desequilibrando-nos. Funciona como um tratamento de choque, obrigando-nos ao movimento. Apresenta-se com variadas faces, obrigando-nos a despertar de várias formas, a nos reorganizar ou às nossas relações.
 São chegadas e partidas inesperadas, desejadas ou não...
 - são perdas físicas/materiais, afetivas...  são violências, decepções, abandonos, doenças, morte...
 - são fatos/informações novas, imprevistos, derrubando nossas “certezas”...
 - são até os ganhos, nos assustando com prazer, mas assustando...
           
            Diante do Inesperado somos chamados a tomar decisões, modificar atitudes, antes adiadas... Somos despertados para novas sensações, novas emoções, novos sentimentos... Nossas velhas crenças/certezas são confrontadas e algumas modificadas...
Levamos algum tempo para sair do assombro, deixar de negar e poder assimilar os fatos inesperados. Tentamos nos agarrar ao passado conhecido e “cômodo”. Perdemos a confiança no “processo natural” a que estávamos acostumados, à ordem esperada por nós. Ficamos, durante um variado espaço de tempo, inseguros, medrosos, vigilantes, à espreita, esperando, talvez, poder desarmar o inesperado, as surpresas dolorosas, para que não nos machuquem ou assustem tanto.

            O Inesperado é a carta nova no velho jogo da vida. Ele renova o jogo e a nós, os jogadores. Ele nos obriga a rever posições, estratégias... Ele nos acorda, requer maior disposição, mais alerta, mais alento...  E se os “coringas” nos trazem prazer, as “cartas ruins” nos exigem empenho e criatividade para avançarmos.

domingo, 13 de outubro de 2013

JUSTIÇA


           A Justiça é, também, uma das necessidades mais altas do Ser Humano.
É uma necessidade de nossa dimensão espiritual, de nossa alma! Minha Consciência Espiritual me sinaliza que quero, que preciso, trazer a Justiça à minha vida, agir com Justiça, para sentir-me bem, sentir-me serena e em paz. É uma necessidade de nutrição interna.

            No entanto, nossa consciência egóica, ensinada e condicionada pelo mundo a ser competitiva, defensiva, reativa, voltada para julgar, comparar, condenar, “dar o troco”, castigar... entende e busca, desta forma, orientar a justiça dos homens (e a minha) – “Olho por olho”. Esse senso duro, aguerrido, arrogante, é conseqüência de uma visão idealizada que pretende que sejamos todos iguais, comparados por nossas próprias medidas, que sejamos credores e devedores em um mundo dos homens, ainda tão falho e primário.

            Dessa forma, todo o tempo nos comparamos. Comparamos nossas oportunidades, nossas perdas e nossas vidas, querendo fazer justiça ou esperando receber justiça e, quando não, nós nos lamuriamos, cheios de autocomiseração, pedindo atenção e piedade, lamentando sermos vítimas de injustiça num mundo cruel. Algumas vezes aí ficamos, encalhados, sem nos responsabilizar por nós mesmos, repetindo inutilmente: Isto não é justo!
Disse Alguém Amoroso e Justo: “Que te importa o que dou aos outros?
Não te dei o justo que me pediste?”

            O mundo dos homens ainda não é justo! Torna-se fútil esperar justiça de fora, deixar-me revoltar e arrasar por suas maldades e injustiças. Isso acaba por justificar a revanche, a vingança, o ódio... “Quero justiça!”
“Bem feito!” . “Não é a injustiça que conta; é o que você pode fazer a respeito.”

            Na verdade, só devo “ouvir”, estar atento, à minha Consciência Espiritual que me aponta o que é justo, como agir com justiça.
Nem sempre podemos “entender” a Justiça Divina! Ficamos confusos, querendo entendê-la sob nossas medidas, sob nossa ótica egóica. Isso porque nos falta uma visão maior, faltam-nos dados maiores, mais abrangentes, para poder entender. Mas eu posso, sim, num ato de fé, coerente com minha certeza num Poder Perfeito de Sabedoria e Amor, aceitar (mesmo às vezes sem gostar) suas determinações em minha vida, em nossas vidas, e acreditar em Sua Justiça, sem cobrá-Lo pelo que não entendo.

            A Justiça pela qual ansiamos, aquela que nos nutre, satisfaz e conforta é aquela que conseguimos vivenciar e exercer, sem nos deixar paralisar pelas justiças ou injustiças do Outro. Essa Justiça, inspirada pela minha Consciência Espiritual, quando eu a pratico, é que me satisfaz e inunda de Alegria, de Coragem, de Verdade, de Serenidade.


terça-feira, 8 de outubro de 2013

A VOLTA


          “Não chore nas despedidas! Elas são necessárias para que possamos nos encontrar outra vez! R.Bac Mas nós choramos, porque algumas são “sem volta” (pelo menos por aqui). Outras, são o desfecho de dolorosos processos que culminam em crises e afinal – despedidas! Essas nos machucam, embora ainda guardemos, escondidas, a esperança da Volta.

Casais, amantes, pais/filhos... relações onde nos perdemos uns dos outros pelo caminho: Onde foi? Como foi? Nós nos amávamos tanto! Mas o medo de perder aquele que era o objeto” do meu amor tudo complicou! E as tentativas de controlar o que me “pertencia”, que me era tão querido? Tateando, brigando, mentindo... Inseguros, cada vez mais amedrontados, horrorizados, fomos vendo a distância aumentando, nos separando, até uma crise maior, até a despedida! Agora, só a dor da separação, do vínculo partido...

 No vazio, na saudade com a falta de quem amamos, refazemos mentalmente, obsessivamente, o caminho percorrido durante a tentativa fracassada de salvar, guardar, resguardar, o “objeto” de amor. “Eu podia, eu queria, eu devia”... mudar o outro para salvá-lo e ao nosso amor, assim acreditava. Fracassei! Fui incompetente em meus papéis?

Em meio a essa dor maior, confusos, nos vemos divididos por uma sensação de alívio desconcertante e cheia de culpa! A distância que tanto machuca, permite também dar “um tempo” na agonia do impasse na relação. E ainda nos sentimos invadidos pela esperança e pelo desejo de uma volta, de um recomeço! E esse desejo se distorce e se transforma em expectativa, em ansiedade, em medo: Será? Como será? E se...?

“E quando vem a volta...” vemos reacender em nós a possibilidade de dias melhores, da volta dos “bons tempos”, mas também o medo de novamente tudo falhar. Na alegria medrosa do reencontro, fazemos concessões exageradas, promessas de mudanças... Desejos de agradar, que infelizmente vão se esvaindo na desatenção do dia a dia, na volta do controle, na volta das manipulações/cobranças, na volta à mesma “velha família”, à mesma “velha relação”, aos mesmos velhos hábitos, às mesmas crenças em como desempenhar nossos papéis. E tudo isso sob a pressão insuportável de nossas expectativas! Amar é sofrer?! Assim, é!

Hoje, vejo com ternura, tristeza e compaixão, a alegria ansiosa e inocente das pessoas sofridas e amorosas que se lançam com paixão e coragem ao resgate de suas relações afetivas apostando na volta, mas infelizmente num jogo onde as cartas continuam marcadas, onde elas não têm chance de sucesso. As crises voltarão, se repetirão, até a despedida final, já então sem desejo ou esperança de volta ou se conformarão com uma relação pouco afetiva onde já desistiram um do outro e ali, amargurados, desacreditados do amor, se deixam ficar – encalhados.

“Insanidade é fazermos as mesmas coisas e esperarmos resultados diferentes”. Passamos pela vida tantas vezes nessa dolorosa insanidade, até percebermos que só modificando a nós mesmos na relação poderemos obter resultados que nos satisfaçam! Só entendendo que as pessoas não são objetos e não nos pertencem, por mais que as amemos. Só entendendo que elas são o que são e não o que queríamos que fossem! Só entendendo que estamos todos de passagem uns pelos outros e o que cabe a mim é respeitar o caminhar do outro e garantir o respeito ao meu caminhar!

Voltar ao convívio de quem amo é uma escolha minha! É minha responsabilidade cuidar de mim nessa volta, cuidar para que essa relação seja, no mínimo, honesta da minha parte e confortável para mim, que eu sinta que vale a pena, para que eu não vá cobrar do outro as minhas expectativas frustradas!
Não quero voltar buscando um passado que não deu certo!
Quero voltar para aprender a amar com alegria, parceria, liberdade, verdade, respeito...! Voltar, assim, “é certo para os que se amam...”
Amar, assim, não é sofrer! Amar, assim, é muito bom!


quinta-feira, 3 de outubro de 2013

A CASA DA INFÃNCIA



As casas da minha infância... Preciso revisitá-las, trazer as lembranças daquilo que vi apenas com os olhos de criança, muitas tão guardadas, algumas já esquecidas. Quero revê-las hoje, com olhar de adulto, olhos mais vividos, olhos que podem ir re-significando essas lembranças.

Elas eram assim... As famílias maiores – pais, filhos, avós, irmãos, às vezes tios e primos, agregados e empregados muito “antigos”, que  atravessavam gerações, memórias vivas das histórias da Família, mesmo as mais secretas!  As vidas eram mais misturadas, com muito menos “privacidade”, mas nem por isso com menos incríveis e tolos segredos – de família e em família.  Ciúmes, vaidades, invejas, disputas pelo poder, articulações políticas e tolices humanas entre os adultos, ainda que quase sempre desapercebidas pelas crianças. 
A autoridade dos avós, clara ou subtendida, exercida ou lembrada através da obediência ou do respeito dos nossos pais. O avô austero, a avó carinhosa, matriarca sutil, definindo caminhos, sendo sempre ouvida pelos filhos... (nem sempre obedecida, mas certamente ouvida com respeito e paciência).
Os pais ainda jovens, trabalhando, fazendo passeios nas férias, em fins de semana, visitas aos parentes, estudando conosco, lendo histórias... nos tempos incríveis, anteriores ao domínio da televisão!
Tios ou primos que eventualmente passavam tempos em nossa casa (por motivos segredados que não nos deixavam ouvir) e isso era sempre uma festa para as crianças.
Vizinhos que se tornavam quase parentes, parceiros de conversas de fim de dia nas calçadas...
Casas com quintais, cães, gatos, galinheiros... Grandes quintais (ainda maiores na nossa percepção infantil) que foram diminuindo conforme crescemos e a cada mudança, até se transformarem em pequenas áreas de concreto! Quintais de muitas brincadeiras, algumas perigosas, outras “licenciosas”. Quintais de sonhos e fantasias compartilhados, de brigas e “alianças políticas” infantis.

Hoje percebo como a comunicação entre os adultos era tantas vezes velada, cheia de olhares, de subentendidos interditos a nós, crianças. Os desentendimentos eram acobertados pelo “bem da família” e minimizados para as crianças.  Os mais velhos davam instruções contínuas para nos orientarem, inclusive sobre os pensamentos e sentimentos que poderíamos ou deveríamos ter! Éramos cuidados, mas não éramos ouvidos!  As casas de nossa infância foram escolas em tempo integral onde aprendemos e exercitamos como deveríamos ser e estar.

Revisitá-las me traz tantas lembranças! Algumas muito doídas pela  impotência da criança ante o mundo adulto, pelos fatos duros da vida ou pela saudade, mas outras muito doces, coloridas pela magia natural de nossa infância.  Gosto de revê-las com um novo entendimento que a maturidade me trouxe.
Gosto de rever as figuras que as povoaram (heróis ou bandidos), e poder colori-los de verdade e humanidade. Gosto de entender os padrões de hierarquia, de comunicação, os acertos e erros, as crenças que dirigiam aquelas pessoas tão importantes do meu passado para, hoje, poder mais livremente fazer minhas próprias escolhas em minhas atuais famílias.


            A casa de minha infância foi meu berço, meu ninho. O que permanece mais forte foi a acolhida, os laços fortes (de sangue ou não) que foram se estabelecendo no convívio com sustos, perdas, medos, sonhos, brigas, desejos, alegrias, decepções... Permanece a percepção do amor sempre presente e a vontade de que tudo desse certo, porque queríamos tanto ser felizes!


sábado, 28 de setembro de 2013

A PARTICIPAÇÃO PRIMEIRA


            Tenho procurado “ver” e rever minha participação nas relações (familiares e outras), buscando interagir com mais honestidade, respeito, gentileza, firmeza, generosidade... porque acredito que assim será melhor para mim e para todo o grupo.  No entanto, tão presa estava em melhorar minhas atitudes com as pessoas, que não percebi quanto preciso estar atenta ao meu contacto comigo mesma e ser responsável pelo modo como participo de minha própria vida!

            Como é essa Participação?  Tenho plena consciência de mim mesma? Preciso ter Consciência de minha responsabilidade – a primeira -  com minha própria vida, com as minhas escolhas, com o modo como enfrento os desafios, as dores e as delícias do meu caminho. Preciso ter consciência das minhas necessidades físicas, psicológicas, afetivas, espirituais – consciência dos cuidados que preciso ter comigo, cuidados que preciso receber de mim mesma!
 - tenho tempo para mim ou apenas fico com o que sobra? (quando sobra!)
 - respeito os meus limites, “o que posso”, ou me sobrecarrego em todos os níveis para agradar?
 - tenho uma escuta atenciosa e gentil com meus anseios, meus desejos, meus sonhos, com meus sentimentos... ou sou “sargento” de mim mesma e  os ridicularizo, os desqualifico, os sufoco, para me adequar aos modelos e expectativas do mundo?
 - busco coragem para ser leal a mim e dar voz ao que penso, ao que sinto, ao que quero, ao que posso?
 - sou paciente, bem humorada e generosa com minhas falhas, aprendendo a transformar minha prepotência e humilhação em humildade, simplicidade e aceitação?
 - procuro conhecer, honestamente, com atenção, curiosidade e aceitação, os meus defeitos/características (preguiça, orgulho, prepotência, inveja, vaidade, mentiras...) para poder libertar-me deles?
 - procuro reconhecer meus dons únicos e as minhas “boas” características  que podem gerar força e boas possibilidades para mim?

            Quero, ativamente, participar dessa minha passagem por aqui!
Quero ter consciência de que minha participação nessa vida é de minha inteira responsabilidade e de que todas as possibilidades dependem de mim para serem aproveitadas!
Quero escolher que essa Participação seja amorosa, paciente (mas firme), generosa, gentil, cordial, alegre, terna... comigo mesma, porque tudo começa em mim, inclusive meu aprendizado e minha capacidade de Amar!

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

PARTICIPAÇÃO


           Nossa participação em qualquer grupo humano está ligada ao nosso sentimento de pertença, de pertencimento. Participando, sentimos que fazemos parte daquele grupo (Família, Escola, Igreja, Trabalho...). E é também participando que aprendemos, crescemos e florescemos. É compartilhando, trocando, que vamos descobrimos quem somos e o que podemos.

            Mas como fomos ensinados a participar para podermos pertencer? Bem cedo fomos entendendo que precisávamos disputar para termos um “bom” lugar nos grupos, quaisquer grupos. Precisávamos ser bons, os melhores, para contarmos com a admiração, a valorização, o prestígio, e assim não corrermos tanto o risco de perdermos valor, valores e amores. Aprendemos a participar de uma forma distorcida, nos comparando, tentando sempre muito mais parecer do que ser, o que acaba nos distanciando afetivamente uns dos outros, enquanto nos enredamos nessas artes de defesa/ataque, nesses jogos de prestígio e poder.

            Nesse modelo egóico de pertencer, disputado e equivocado, fomos buscando participar da forma que nossas características pessoais nos impelem.
 - podemos nos omitir, nos esconder, porque somos preguiçosos, letárgicos, ou porque temos medo de nos arriscar, de tomar atitudes, de sermos responsabilizados. Cedemos espaço, mas se algo der errado, a culpa é dos outros, “não temos nada com isso”. Não nos doamos, nada acrescentamos!
 - podemos ser os submissos, os sobrecarregados, os obedientes, que também não se responsabilizam porque só cumprem ordens. Preferem sempre concordar para serem aceitos e queridos. Não criam e também não acrescentam!
 - podemos ser os eternos críticos, meio “de fora” para melhor apontar os erros dos outros. Tornamo-nos ácidos, amargos, negativos, destrutivos, em nome de proteger o grupo. Não somos amados, mas nos consolamos em ser temidos.
 - podemos nos ver como “líderes” condutores, quando somos, na verdade, controladores, arrogantes donos do saber e da verdade. Orgulhosos, não ouvimos os que “nada têm a nos acrescentar”! Queremos fazer tudo no nosso jeito ou tudo/todos controlar, tirando aos outros a capacidade de colaborar e do grupo crescer. Somos movidos pela constante necessidade e ambição de prestígio e poder.
 - podemos ser os agressivos, os grosseiros, os ríspidos, os frios, os distantes, os fechados, que não dão afeto, que a todos afastam e, tristes/amargos, se sentem excluídos e abandonados...

Podemos desempenhar tantos outros papéis nesse modelo aguerrido!
Mas, nenhum deles nos gratifica, nenhum deles nos aproxima uns dos outros, nenhum deles nos traz conforto e alegria ao convívio. Eles não nos fazem melhores e mais felizes! Como mudar? Não quero simplesmente me afastar e abrir mão das pessoas e oportunidades que passam pela minha vida, em Família e em outros grupos. Quero participar de uma forma prazerosa, que nos acrescente, que nos faça florescer! Cabe somente a mim escolher um novo modo de estar, de participar. Talvez os outros não se interessem em modificar sua participação, mas só posso mudar a mim!
 - posso aprender a ouvir, inteira, disponível, com coração e mente abertos.
 - posso exercitar a coragem para me revelar, para me colocar, para colaborar, com doação, sem cobrança ou expectativa de gratidão.
 - posso descobrir a importância do sorriso, da delicadeza, da gentileza para chegar ao outro, valorizando-o com meu respeito, demonstrando a necessidade de Igualdade e Simplicidade em qualquer relação.
 - posso descobrir a Humildade com as minhas falhas e ao compreender as dificuldades do outro ao “calçar os seus sapatos”.
 - posso ser uma voz de boa vontade e entusiasmo, uma voz mais firme e serena, querendo apenas participar para cooperar.


            Essa é a Participação que, acredito, se torna a “chave da harmonia” em nossas relações.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

POR QUE ME ESCONDO ?



           “Por que tenho medo de lhe dizer quem sou?”
Por que aceito tanto as “verdades” que me foram ensinadas sobre quem eu devia ser, como devia pensar, sentir e agir ? – por que tenho tanta dificuldade de questioná-las e procurar minhas próprias verdades?
Por que escondo tanto meus pensamentos, meus sonhos?
Por que sufoco, brigo, nego, renego tanto os meus sentimentos?
Por que me submeto a mentir e fazer segredo de comportamentos e atitudes tomadas na vida?
Por que fico prisioneira da busca de uma imagem que não sou eu?

            Acredito que toda essa dificuldade de assumir quem realmente sou a cada momento, é fruto do imenso medo de não ser aceita, não ser amada, não ser valorizada! E aprendi que tudo isso viria de fora, do mundo – da Família, da Escola, da Igreja, do Trabalho...
Aprendi desde cedo a ter muito cuidado em não decepcionar os outros, a buscar atender às expectativas que tinham sobre o meu modo de pensar, sentir e agir. E como não conseguia agradar a tantos e todos, aprendi a esconder as “partes de mim não aceitáveis”... Mas como dói, como é difícil manter-me sempre atenta – policiando, lutando, escondendo... até de/para mim mesma!

O custo é imenso! Custo físico, emocional, mental, espiritual! Custo afetivo em minhas relações mais significativas, que se tornam inseguras, falidas, de fachada... e me trazem a dor de me sentir incompreendida em minha humanidade.

            Nesse processo não sou honesta comigo mesma, nem com o mundo.
Não consigo assim desfrutar da Verdade e a Verdade é uma das necessidades mais altas do ser humano! É uma necessidade espiritual e nós somos Seres Espirituais! Sem a Verdade, sentimo-nos vazios, ocos, deformados, estranhos a nós mesmos, sempre inseguros e insatisfeitos com o “produto” em que nos tornamos.


            Como trazer Verdade à minha vida? Só eu posso ir abrindo mão, com paciência, coragem, bom humor, boa vontade... das máscaras que me escondiam e defendiam do mundo. Só eu posso escolher estar comigo a cada instante - presente, atenta e interessada em rever e entender meu personagem em minha história. Só eu posso estar me descobrindo – sem julgar, sem acusar, sem culpar... mas sem justificar e sem desistir – apenas com Honestidade, Aceitação e Humildade, construindo uma auto-imagem real, uma identidade verdadeira. Começo então a criar uma intimidade comigo, plena de um novo respeito, de auto valorização, de carinho e estima por mim! Começo também a desfrutar da Liberdade (outra necessidade espiritual) de ser quem sou! E tudo isso é muito bom!

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

NÃO JULGUEIS...


            O que sabemos do Outro?
Conhecemos seu rosto, talvez alguma coisa da sua história, de suas falas, de suas atitudes... Mas nada disso revela, realmente ou mais profundamente, quem ele É, porque nós não somos somente um rosto, episódios, palavras e comportamentos. Nós somos, além disso tudo, todo um mundo interior, escondido de todos, até de nós mesmos!

Tendemos a acreditar que podemos julgar-nos uns aos outros apenas por essa superfície revelada. Julgamos: bom, mau, muito mau, execrável...
Na verdade, o que estamos vendo, julgando, condenando, são suas atitudes agressivas, falsas, mentirosas, negativas... Estamos vendo o efeito de suas defesas adoecidas, perversas, pervertidas...

Existe a necessidade de estabelecer limites que resguardem as pessoas. Existe a necessidade de tomarmos atitudes de controle sobre esses comportamentos lesivos aos grupos onde estiverem. E os limites vão desde a advertência verbal até ao afastamento do grupo (familiar, religioso, profissional, social...), às vezes para sempre, daqueles que julgamos representar perigo, por seus comportamentos.
Julgamos e precisamos condenar o que é do mundo – as atitudes negativas no mundo.

            No entanto, a cada momento de indignação e revolta com esses comportamentos, preciso lembrar de separar o Ser que É daquilo que ele está sendo, premido pelas distorções de seu mundo interior adoecido, desamoroso, agressivo...
Preciso lembrar que nada sei dos medos, angústias, ódios, decepções, ressentimentos... que esconde em si.
Preciso lembrar que o que realmente sei é que, escondido sob tanta escuridão, cinismo e maldade, existe uma centelha divina igual àquela que nos habita a todos!

            Certamente por isso nós fomos alertados - “Não julgueis...” a criatura que todos somos, ainda que esteja, no momento, perdida de sua própria luz.
Na relação com ela, é preciso ser assertivo, firme, realista, até duro...
Mas para a Criatura que ela É preciso dirigir minha compaixão, com a certeza de que, em algum momento, em alguma vida, ela conseguirá romper a prisão de seu interior adoecido e também se libertará.

domingo, 8 de setembro de 2013

MEU FILHO, MEU FILHO...


           E o rei gritava e chorava pelos corredores do palácio, clamando:
- Meu filho, meu filho...!
Esse é um episódio contado num livro muito antigo. Ele fala da dor do pai pelo filho que ele “perdera”, pelo filho que se perdera!

Ah! Meu filho, meu filho...!
É um gemido que retrata um medo continuado, um susto constante e doloroso, uma agonia que se repete a cada momento de impotência ante os rumos que os filhos muitas vezes tomam, ante a barreira que parece se interpor entre os pais e o filho... São linguagens diferentes, idéias divergentes, caminhos e atitudes “tortas” que se contrapõem aos desejos, fantasias e valores dos pais.
Aprendemos a acreditar que tínhamos o Poder e, mais ainda, o Dever, de cuidar do filho, consertá-lo, resgatá-lo, modificá-lo... Afinal, era o nosso filho! E agora, tudo se mostrava impossível! O que mais posso fazer? Onde errei? Onde estou falhando? Fracassei! Sou incompetente! Mas preciso salvá-lo!  Meu Deus, como dói tudo isso!

            Ah! Meu filho, meu filho...
Quantos sentimentos se misturam, então, ao nosso amor e nos confundem: medo, ansiedade, frustração, raiva, culpa, vergonha, mágoa, ressentimento, desespero, cansaço, desesperança...

            Ah! Meu filho, meu filho...
Quanta dor nessa luta inglória, luta perdida, nessa “missão impossível” de tomar tua vida, teu caminho, teus descaminhos, em minhas mãos e querer modificá-los!... Quantas atitudes incoerentes, controversas, contraditórias, ora cedendo, ora negando, manipulando, escondendo, cobrando, exigindo, culpando, implorando, me humilhando, te humilhando, agredindo... em nome de um Amor desesperado! Toda uma luta que nos feria a todos na tentativa de manter o controle do incontrolável – o Outro, ainda que meu filho, ainda que meu Amor!

            Ah, Meu filho, meu filho...
Revejo o caminho da Dor: a inicial negação dos “problemas”, a luta desorientada e desesperada, a conformação cansada, magoada, desesperançada... até a aceitação, afinal, da verdade simples – estamos juntos, mas não somos misturados! Os filhos têm seus próprios caminhos... Os pais não são incompetentes, são apenas impotentes! Somos, apenas, parceiros nessa caminhada. Uns vieram antes, outros depois, para nos amarmos e respeitarmos.

Ah, Meu filho, meu filho...
Como entendo os gritos e lamentos de dor daquele rei, daquele pai tão antigo! Como me doeu te ver sofrer! Qualquer dor, pequenas ou grandes! Chorei com as tuas dores! Hoje, quero estar sempre contigo (não importam as distâncias), para te animar, te amar... mas não devo e não quero mais chorar pelas tuas escolhas, respeitando-as e aos teus tropeços, porque eles geram teus aprendizados...

Ah, Meu filho, meu filho... Que a mesma doce Luz que nos habita possa nos orientar em nosso caminhar, possa nos perdoar, consolar, fortalecer e pacificar.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

JÁ NÃO ME ACOMPANHA!...


          O tempo passa... tudo se transforma...
Nossas fantasias perdem as cores da magia, a gostosura e o brilho das crenças irreais...
Nossos bonecos/as, nossos heróis, já não nos respondem! Ou nós é que não queremos, ou conseguimos, falar com eles...
Nosso corpo já não nos obedece... Meu corpo já não acompanha meus desejos, meus projetos... Cedo fica cansado, reclama, “emperra”, me desestimula!

            Passei “batida” pela vida, olhando para fora (os outros, o mundo), desatenta de muita coisa que acontecia em mim. No entanto, em alguns momentos, tudo se clarifica, “cai a ficha”! E como dói!
É uma dor “doída”, triste, meio assombrada, um pouco amarga, cheia de nostalgia... Uma dor algo infantil em minha mágoa com o tempo, com a “injustiça” dessa vida, que não pára, que não retarda esse caminhar. Logo agora, que acho que sei um pouco mais, eu posso tão menos!

            Mas, quanto menos posso, preciso descobrir mais o que ainda posso e como posso! Preciso descobrir novas frentes para o meu poder!
 - posso estar atenta e aproveitar as oportunidades do cotidiano real, “ver” as belezas e cores escondidas, disfarçadas em aparentes banalidades.
 - posso agora descobrir heróis em pessoas de verdade, sofridas, valentes, ainda sorridentes, caminhando como podem, frente a seus desafios. E elas estão passando pela minha vida! Quando me dedico a parar para vê-las e ouvi-las... elas me respondem sempre! E não deixarão se esgotar o meu desejo de conhecê-las melhor, incríveis e interessantes que são, em qualquer fase da vida em que estejam.
- posso “ouvir” e cuidar, com carinho e respeito, desse meu corpo que há tanto tempo me serve e acompanha.
 - posso continuar a sonhar, adaptando meus desejos e projetos às minhas atuais possibilidades, em minha atual realidade.
 - posso curtir a vida sem mágicas ou delírios, com intensidade serena, numa sintonia mais fina, mais delicada e profunda...


            Posso tanto!... É tolice chorar pelo que já não posso!